quarta-feira, 27 de abril de 2016

Contos da Solitária (5)

Pistas e a boneca


Nunca mais vi o vampiro. Ele deve ter entrado pela garagem naquele dia e eu me sentia carente pois fazia tempo que não beijava ninguém. O único jeito era matar a carência com uma garrafa de Jack Daniels. Eu não era alcoólatra, só parecia.
Bom se eu tivesse deixado ele me seduzir provavelmente teria sido mordida e vai saber o que ele fazia com as meninas.
Aqueles sonhos pareciam tão reais, o dragão, os extraterrestres, o Slenderman... impossível. Foram apenas sonhos.
Eu me lembro de quando eu desejava profundamente que essas coisas existissem, isso foi a uns 10 anos atrás em uma fase louca da minha vida. Vai ver eu continuo desejando e todos esses sonhos foram por causa disso.
Eu bebia enquanto pensava. Talvez eu devesse fazer algo de diferente no meu fim de semana...
Amanhecia e eu acordava pendurada na rede de barriga pra baixo ainda segurando a garrafa que estava com a metade da bebida no chão. Sentia a ressaca, mas era sexta-feira e eu precisava trabalhar. Me levantava cambaleando e percebi que estava atrasada. Escovei os dentes correndo e fui como eu estava mesmo.
Ao entrar no ônibus sento e vejo ele entrando... o vampiro. Mas era de dia e ele estava com um sorriso maligno no rosto e não queimava no sol. Ele não era um vampiro, seus olhos que me olhavam estavam azuis. Ele sentou ao meu lado e disse:

- Bom dia.
- Bom dia...
- Está surpresa em me ver?
- Um pouco, pensei que você queimasse na luz do sol.
- Não.. vampiros antigos não queimam na luz do sol, nunca leu John Polidori?
- Sim, mas achei que fosse só um conto e se você não suporta alho também não devia suportar a luz do sol...
- Ah não... naquele dia você só estava com mau hálito mesmo - respondeu rindo.

Eu ainda não me convencia de que ele era um vampiro, então olhei no espelho do ônibus e realmente, seu reflexo não aparecia. Isso me deixava extremamente confusa. Ele então disse:

- Desço aqui.
- Mas espera, como é o seu nome?
- Peter - ele foi indo para porta, mas virou e completou - tenha um bom dia senhorita Nathalie.

Vi ele saindo, quando lembrei de não ter falado que meu nome era Nathalie fui correndo para a janela e gritei:

- Espera! Como você sabe que meu nome é Nathalie?!

Ele apenas virou sorrindo, jogando os cabelos como em uma propaganda da Loreal. E o ônibus andou enquanto eu me derretia. Sentei e só pensava naquele sorriso de dentes afiados. Fui para o trabalho.
Ao chegar lá dizia bom dia para todos quando ouvi:

- Vocês viram? Acharam dois corpos das meninas. Estavam completamente sem sangue, passou na TV. Quem poderia fazer tamanha crueldade?

E eu me sentindo desconfortável e com a consciência pesada por saber. Peter não era bom. Será que ele continuava atacando? A conversa continuava:

- Uma pessoa dessas tem que morrer!

Eu me sentia mal, poderia ele ser o que fosse, mas ainda assim tinha consciência do que fazia.
Trabalhei até novamente a hora de ir para casa. Ao andar na rua queria que ele aparecesse de algum lugar... talvez ele pudesse viver bebendo sangue de animais...
Ao chegar em casa chateada por não ter visto ele fui em direção da minha varanda, mas ao passar pelo corredor que levava ao quarto ouvi uma voz vinda do quarto:

- Nath?

Era uma voz fina, parecia a voz de uma menininha, o que me deixou com medo. Talvez eu pudesse lidar com dragões, Slenderman e vampiros, mas fantasmas não. E mais uma vez:

- Nath? Nath vem aqui...

Eu tremia enquanto olhava para a porta do quarto encostada. A casa estava toda escura a não ser pela luz da noite que entrava pela varanda, então resolvi ascender a luz da sala. E voltei a olhar para a porta:

- Nath vem aqui... não me deixa aqui sozinha.

Resolvi que ia enfrentar seja o que fosse. Fui me aproximando do quarto lentamente, e quando cheguei na porta... abri e ascendi a luz rápido. Não vi nada, só minhas coisas. Meu quarto era bonito, tinha um abajur daqueles que tem bolhas coloridas, minha mesa de maquiagem, minha coleção de barbies...
Fui tomar um banho e voltei para a varanda achando que fosse coisa da minha cabeça novamente.
Resolvi deixar a câmera ligada já que já estava ouvindo vozes poderia ter uma crise de sonambulismo. Depois de ligar a câmera percebi que minha boneca de pano estava sentada na mesa próxima a câmera. Eu não me lembrava de ter deixado ela lá, mas provavelmente poderia. As vezes eu pegava ela para ficar perto de mim quando eu me sentia sozinha. Adormeci e acordei de madrugada como sempre. A boneca me olhava ainda e eu olhava pra cara dela reparando seu smile costurado no rosto. Quando ouvi uma voz vindo diretamente dela:

- Oi Nath!

Tomei um susto, mas respondi:

- Oi Nathie! - Nathie era o nome que eu havia dado para a boneca.
- Eu estava com saudades - respondeu com aquela voz de menininha e prosseguiu - você está me deixando sozinha muitas vezes, nem parece que liga para mim mais.
- Me desculpe, eu não tinha reparado, eu ando trabalhando muito...
- Isso não é desculpa! Você poderia me deixar aqui na varanda, aqui é mais confortável e arejado do que naquele quarto escuro com aquelas barbies! Você sabe que eu não gosto delas! - ela me disse em tom bravo, eu lembrava de como a personalidade que eu imaginava para ela era uma menina birrenta, mas doce. Então respondi:

- Eu sei Nathie! Mas e se você caísse da varanda? Eu ia te perder.
- Eu sei, mas... tudo bem. Apenas me deixe aqui quando você chegar.
- Combinado... mas como você começou a falar? E eu só escuto sua voz, mas não vejo sua boca mexer.
- Mas minha boca está aqui, só está costurada! Algo de diferente está acontecendo. Antes eu não conseguia andar, mas agora sinto que eu posso!
- Bom, você pode me mostrar?
- Deixa eu tentar... grrrrrr grrrrr... não consigo, só quando eu quero muito.
- Apenas não tente me matar - disse rindo - não quero uma Annabelle na minha casa.
- E eu lá iria te matar? Eu te amo!
- Own como você é fofa - peguei Nathie e abracei. Senti como se ela me abraçasse também.
- Apenas cuidado com as barbies, pois a cabeça delas eu posso arrancar - disse Nathie brincando.

Eu dormi. No dia seguinte assisti a gravação e eu podia ouvir uma voz de menininha falando comigo. Eu não sabia mais o que era real ou não. Apenas ia me deixar levar e ia começar a deixar Nathie na varanda.
Resolvi ir em uma feirinha comprar umas plantas para minha casa...

Contos da Solitária (4)

Ser da noite


Em mais um dia de trabalho ouvia meus colegas falando sobre meninas desaparecendo pelo bairro:

- Já é a terceira noite seguida que uma garota desaparece, algo ruim está acontecendo.
- Deve ser um tarado, sinto pena dos pais.
- Não vamos pensar o pior.

Eu preocupada já pensei "tenho que voltar cedo para casa" e foi o que fiz, sai as 18:00 e peguei o ônibus que saia próximo a minha rua. Foi tranquilo, ainda era cedo e tinha muita gente na rua. Ao pegar o elevador a velhinha que eu sempre cumprimentava estava chegando na mesma hora com suas compras do mercado, quis ajudar ela. Ela percebendo que eu estava chegando cedo em casa perguntou:

- Voltou mais cedo hoje?
- Sim, me sentia cansada.
- Pois faz certo minha cara, dizem que tem meninas desaparecendo por ai...
- Ouvi dizer.
- Já é a terceira noite que uma menina desaparece, mas já desapareceram outras antes.
- Nossa, disso eu não sabia.
- Eles abafam tudo, deviam deixar todos alertas, mas preferem abafar. Se você quer saber o meu sobrinho trabalha na policia e eles dizem que não é um caso qualquer.
- Mas por que isso? - minha curiosidade despertava.
- Ele disse para mim não comentar com ninguém, mas eu sei que você pega ônibus todo dia e a coisa ataca no ônibus, mas as câmeras do ônibus não conseguem pegar o que fala com as meninas. Depois que as meninas descem do ônibus é que desaparecem. Para mim isso não é coisa de Deus. Esteja sempre com uma proteção viu menina?

Terminava de ajudar ela de levar as compras para o apartamento. Agradeci e disse para ela tomar cuidado também, mas ela me respondeu rindo:

- Quem vai querer alguma coisa com uma velha senhora? Só Deus mesmo.

Ao entrar de novo no elevador olhava para a câmera refletindo. Que tipo de coisa não pode ser vista pelas câmeras? Talvez eu não tenha entendido direito o que ela falou.
Ao chegar em casa me sentia aliviada, gostava da luz da noite que entrava pela minha varanda, sentei na minha rede e a minha câmera que eu deixava ligada para pegar alguma atividade de sonambulismo minha ainda estava lá, mas eu já não tinha flagrado mais nada pela câmera, então com certeza as coisas que aconteceram antes foram alguma crise de sonambulismo e não algo sobrenatural. Foram apenas sonhos. Mas realmente seria perigoso ter outra crise de sonambulismo.
Levantei e olhava para baixo vendo a cidade. Nada me parecia estranho, já era quase 20 horas, o horário que eu estaria chegando normalmente. Eu não poderia sair do trabalho cedo sempre.

No dia seguinte o assunto das garotas sumindo tinha morrido. Mas eu ainda me sentia preocupada, veria quem desce no mesmo ponto que eu para me acompanhar até próximo da minha casa.
E mais um dia de trabalho se passava... ao chegar no ônibus fiz amizade com uma moça que desceria no mesmo ponto. Ela tinha que virar uma rua antes da minha e então eu aceleraria o passo até a porta do meu prédio. Por algum motivo eu sentia medo. Algo me observava. Mas enfim cheguei em casa. Observei um pouco a cidade da varanda de novo e fui dormir.


Ela era tão linda... eu preciso dela...


Naquela noite ao sair do trabalho resolvi passar no mercado, adorava fazer compras, ia fazer um jantar pra mim com muito alho, fazia tempo que eu não cozinhava e eu simplesmente adoro alho! Tudo tem que ter alho. Alho faz bem, alho desintoxica o organismo, tem coisa melhor que alho? Então fiz minhas comprinhas, algumas coisas que faltavam em casa. E hoje ia ser macarrão. Estava empolgada andando com o carrinho pelo supermercado. Paguei e fui embora.
Já era tarde e eu acelerava o passo de novo, ao entrar no meu prédio cumprimentava sempre o porteiro e um carro entrava na garagem ao mesmo tempo que eu entrava.
Subi pelo elevador e levei minhas compras para dentro, fechei a porta e fui preparar meu jantar. As vezes eu tinha que deixar de preguiça e cozinhar. Fazer o molho, macarrão ao alho... talvez eu tenha exagerado, mas alho é bom então tudo bem. Ao terminar de preparar fui comer a luz de velas e depois fui pra minha varanda. Sentia uma preguiça e dormi...
Acordei no meio da noite, tive a impressão de ouvir minha porta abrindo. Tomei um susto e fui olhar a casa, mas não vi nada. Sentia medo e resolvi voltar para a minha varanda.
Nessa hora ouvi alguém atrás de mim...
Ao virar dei cara com um garoto de cabelos pretos nos ombros, olhos vermelhos bem abertos que brilhavam no escuro me olhando de forma maligna. Sua pele era branca, muito branca e suas roupas eram pretas. Ele me segurava forte com as mãos próximas aos meus ombros.
E então eu me toquei que tipo de coisa não aparecia nas câmeras.
Perguntei:
- Como conseguiu entrar? Fora da minha casa!
- Ah eu não quero ir embora agora, te achei tão linda.
- Me solta! - tentava me soltar, mas ele era forte e suas mãos bem geladas.
- Você não vai querer me expulsar, você me quer também...
- Não! O que você fez com as garotas que sumiram? - eu ainda me remexia na esperança de me soltar.
- Eu não podia deixar elas por ai entende? - e por um momento eu parei de me remexer e olhei para os olhos dele que me hipnotizavam profundamente. Ele se aproximava me olhando e sussurrou:
- Viu como você me quer também...
Ele encostou os lábios no meu e então... ALHO!
Ele me soltou tão rápido que cai e saiu correndo pra tão longe que só vi a sombra preta e o vento indo embora. Me senti até chateada. Tinha esquecido de escovar os dentes. Me senti uma porca. Eu não achava que alhos realmente afetassem vampiros.
Fui fechar a porta e vi um grampo caindo da fechadura. Esperto ele. Fui escovar os dentes logo depois.
Sentei na varanda e fiquei refletindo.. espera, eu estava bem acordada, ele não poderia ser um vampiro. Talvez seja apenas o louco que ataca as garotas e deve se achar um vampiro. Como ninguém viu ele entrando no prédio? Engraçado, ele se parecia com um personagem que eu vivia desenhando...


Continua.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Eu só quero seu corpo

Seu corpo como objeto
Para minha satisfação
Seus sentimentos?
Seus sentimentos não
Sentimentos não existem
Você esqueceu?
Pensei que você já fingia não ter
Então saia de perto de mim
Fraca
Fresca
Chata
Eu só ia querer você
Se você só quisesse ser usada

Temporariamente

É claro

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Incomodando sem querer

Eu cheguei de fininho como quem não quer nada
Com esse sorriso desajeitado
Me viram como uma ameaça
Mas eu realmente não queria
Me desculpe, eu não queria...
Não queria incomodar
Não há pelo que brigar
Mas já que você quer assim
O que uma garota como eu poderia fazer de ruim?
Eu estou apenas observando
Não quero ofender
Mas se você quer me fazer mal
É mal que você vai ter
Simplesmente não posso fazer nada
Só posso pensar
Mas cada vez que eu penso
Com mais força a praga vai pegar
Pois você sabe
A simples garota de sorriso desajeitado
Te incomoda
Pois você sente a força dela
De longe
Nós duas sabemos
Não há o que fazer
Mas por que você há de me temer?

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Céu e Inferno

O bom de existir entidades para me julgar
É que elas sabem quem eu sou
Se sou boa ou se sou má
Se sou útil ou sou inútil
E o que há para me reservar?
Se mereço eu agradeço
Se não mereço eu desço
Mas se eles não existem
eu simplesmente desapareço
E na terra eu permaneço.

Nem eu mesma sei quem eu sou
Talvez eles saibam

sábado, 2 de abril de 2016

Chame a bruxa

.

Doce criatura sutil
Quase tão boa
E eu com meu lado vil

Uma delicia essa maçã
Veneno doce
Venha provar meu romã

Sentimentos puros
E eu me segurando
Com meus sentimentos escuros

Se você acredita em fantasmas
Tenho que dizer
Acredite em bruxas
Muito prazer

.

call the witch
the witch bitch baby