Pistas e a boneca
Nunca mais vi o vampiro. Ele deve ter entrado pela garagem naquele dia e eu me sentia carente pois fazia tempo que não beijava ninguém. O único jeito era matar a carência com uma garrafa de Jack Daniels. Eu não era alcoólatra, só parecia.
Bom se eu tivesse deixado ele me seduzir provavelmente teria sido mordida e vai saber o que ele fazia com as meninas.
Aqueles sonhos pareciam tão reais, o dragão, os extraterrestres, o Slenderman... impossível. Foram apenas sonhos.
Eu me lembro de quando eu desejava profundamente que essas coisas existissem, isso foi a uns 10 anos atrás em uma fase louca da minha vida. Vai ver eu continuo desejando e todos esses sonhos foram por causa disso.
Eu bebia enquanto pensava. Talvez eu devesse fazer algo de diferente no meu fim de semana...
Amanhecia e eu acordava pendurada na rede de barriga pra baixo ainda segurando a garrafa que estava com a metade da bebida no chão. Sentia a ressaca, mas era sexta-feira e eu precisava trabalhar. Me levantava cambaleando e percebi que estava atrasada. Escovei os dentes correndo e fui como eu estava mesmo.
Ao entrar no ônibus sento e vejo ele entrando... o vampiro. Mas era de dia e ele estava com um sorriso maligno no rosto e não queimava no sol. Ele não era um vampiro, seus olhos que me olhavam estavam azuis. Ele sentou ao meu lado e disse:
- Bom dia.
- Bom dia...
- Está surpresa em me ver?
- Um pouco, pensei que você queimasse na luz do sol.
- Não.. vampiros antigos não queimam na luz do sol, nunca leu John Polidori?
- Sim, mas achei que fosse só um conto e se você não suporta alho também não devia suportar a luz do sol...
- Ah não... naquele dia você só estava com mau hálito mesmo - respondeu rindo.
Eu ainda não me convencia de que ele era um vampiro, então olhei no espelho do ônibus e realmente, seu reflexo não aparecia. Isso me deixava extremamente confusa. Ele então disse:
- Desço aqui.
- Mas espera, como é o seu nome?
- Peter - ele foi indo para porta, mas virou e completou - tenha um bom dia senhorita Nathalie.
Vi ele saindo, quando lembrei de não ter falado que meu nome era Nathalie fui correndo para a janela e gritei:
- Espera! Como você sabe que meu nome é Nathalie?!
Ele apenas virou sorrindo, jogando os cabelos como em uma propaganda da Loreal. E o ônibus andou enquanto eu me derretia. Sentei e só pensava naquele sorriso de dentes afiados. Fui para o trabalho.
Ao chegar lá dizia bom dia para todos quando ouvi:
- Vocês viram? Acharam dois corpos das meninas. Estavam completamente sem sangue, passou na TV. Quem poderia fazer tamanha crueldade?
E eu me sentindo desconfortável e com a consciência pesada por saber. Peter não era bom. Será que ele continuava atacando? A conversa continuava:
- Uma pessoa dessas tem que morrer!
Eu me sentia mal, poderia ele ser o que fosse, mas ainda assim tinha consciência do que fazia.
Trabalhei até novamente a hora de ir para casa. Ao andar na rua queria que ele aparecesse de algum lugar... talvez ele pudesse viver bebendo sangue de animais...
Ao chegar em casa chateada por não ter visto ele fui em direção da minha varanda, mas ao passar pelo corredor que levava ao quarto ouvi uma voz vinda do quarto:
- Nath?
Era uma voz fina, parecia a voz de uma menininha, o que me deixou com medo. Talvez eu pudesse lidar com dragões, Slenderman e vampiros, mas fantasmas não. E mais uma vez:
- Nath? Nath vem aqui...
Eu tremia enquanto olhava para a porta do quarto encostada. A casa estava toda escura a não ser pela luz da noite que entrava pela varanda, então resolvi ascender a luz da sala. E voltei a olhar para a porta:
- Nath vem aqui... não me deixa aqui sozinha.
Resolvi que ia enfrentar seja o que fosse. Fui me aproximando do quarto lentamente, e quando cheguei na porta... abri e ascendi a luz rápido. Não vi nada, só minhas coisas. Meu quarto era bonito, tinha um abajur daqueles que tem bolhas coloridas, minha mesa de maquiagem, minha coleção de barbies...
Fui tomar um banho e voltei para a varanda achando que fosse coisa da minha cabeça novamente.
Resolvi deixar a câmera ligada já que já estava ouvindo vozes poderia ter uma crise de sonambulismo. Depois de ligar a câmera percebi que minha boneca de pano estava sentada na mesa próxima a câmera. Eu não me lembrava de ter deixado ela lá, mas provavelmente poderia. As vezes eu pegava ela para ficar perto de mim quando eu me sentia sozinha. Adormeci e acordei de madrugada como sempre. A boneca me olhava ainda e eu olhava pra cara dela reparando seu smile costurado no rosto. Quando ouvi uma voz vindo diretamente dela:
- Oi Nath!
Tomei um susto, mas respondi:
- Oi Nathie! - Nathie era o nome que eu havia dado para a boneca.
- Eu estava com saudades - respondeu com aquela voz de menininha e prosseguiu - você está me deixando sozinha muitas vezes, nem parece que liga para mim mais.
- Me desculpe, eu não tinha reparado, eu ando trabalhando muito...
- Isso não é desculpa! Você poderia me deixar aqui na varanda, aqui é mais confortável e arejado do que naquele quarto escuro com aquelas barbies! Você sabe que eu não gosto delas! - ela me disse em tom bravo, eu lembrava de como a personalidade que eu imaginava para ela era uma menina birrenta, mas doce. Então respondi:
- Eu sei Nathie! Mas e se você caísse da varanda? Eu ia te perder.
- Eu sei, mas... tudo bem. Apenas me deixe aqui quando você chegar.
- Combinado... mas como você começou a falar? E eu só escuto sua voz, mas não vejo sua boca mexer.
- Mas minha boca está aqui, só está costurada! Algo de diferente está acontecendo. Antes eu não conseguia andar, mas agora sinto que eu posso!
- Bom, você pode me mostrar?
- Deixa eu tentar... grrrrrr grrrrr... não consigo, só quando eu quero muito.
- Apenas não tente me matar - disse rindo - não quero uma Annabelle na minha casa.
- E eu lá iria te matar? Eu te amo!
- Own como você é fofa - peguei Nathie e abracei. Senti como se ela me abraçasse também.
- Apenas cuidado com as barbies, pois a cabeça delas eu posso arrancar - disse Nathie brincando.
Eu dormi. No dia seguinte assisti a gravação e eu podia ouvir uma voz de menininha falando comigo. Eu não sabia mais o que era real ou não. Apenas ia me deixar levar e ia começar a deixar Nathie na varanda.
Resolvi ir em uma feirinha comprar umas plantas para minha casa...